Monday, March 28, 2011

Mulher condenada a 7 anos por torturar marido

Não é o exemplo mais comum, mas acontece. Uma mulher foi condenada a sete anos de cadeia por violência doméstica. Aquilo que fazia ao marido era tão horrível que custa a crer. Ainda mais difícil é perceber o motivo por que a vítima não reagia. A explicação deita luz sobre as armadilhas psicológicas que tornam esse género de situações - seja homem ou mulher o agressor - tão difíceis de escapar para quem as sofre.

O caso teve lugar em Inglaterra. Ian McNicholls, um homem de classe média-baixa sem emprego fixo (ele refere-se aos trabalhos que vai tendo como 'projectos') envolveu-se com uma mulher chamada Michelle Williamson. Michelle não era grande - na verdade, era até um bocado mais pequena que ele. Mas era muito mais aguerrida. E tinha dois irmãos no crime organizado.

Falsa promessa


Michelle meteu na cabeça que Ian olhava com demasiada atenção para certas amigas dela. Ou seria apenas um pretexto. Da primeira vez que o argumento surgiu, o resultado foi um murro dado com tal força que abriu a cara de Ian.

Nesse momento ele interrompeu a relação e foi viver para sua casa, retomando a vida pacata que sempre tivera, incluindo idas regulares ao pub e ao futebol. Mas Michelle mandava-lhe mensagens e fazia telefonemas onde garantia que não voltaria a repetir o ataque. Ian cedeu.

Como é típico dessas situações, a promessa pouco ou nada valia. Ian depressa se viu sujeito a uma variedade de agressões físicas e psicológicas.


A seguir aos ataques, era habitual Ian – visivelmente danificado - ser enviado a uma loja buscar qualquer coisa


Sadismo criativo


Na sua descrição, que foi comprovada em tribunal, a violência ia desde detergente derramado nos olhos e cigarros enfiados no nariz até ferro-de-engomar aplicado nas omoplatas e nos braços, passando por pancadas com um martelo nos ombros (ele ainda tem lá a cova) e com o aspirador na cara. Também houve a altura em que a água a ferver de uma chaleira lhe invadiu o corpo todo.

Escusado será dizer que Michelle comandava a vida inteira do parceiro. As horas de comer, de ir para a cama, de levar, eram determinadas por ela. Ian estava cada vez mais isolado do mundo externo. Não se encontrando a trabalhar, vivia como um eremita.

Os amigos que telefonavam mal podiam falar com ele, pois Michelle arranjava logo qualquer tarefa urgente. E a seguir aos ataques, era habitual Ian - visivelmente danificado - ser enviado a uma loja buscar qualquer coisa. Como que para exibir o troféu de mais uma performance bem sucedida.

Salvo pelo vizinho


Perplexidade óbvia: porque não se defendia a vítima? Ian explica que gostava da mulher, que a violência não é solução. Sobretudo, lembra que ela tinha os tais dois irmãos, cujas actividades e brutalidades não se cansava de referir a Ian. A implicação era que, se ele se quisesse separar, sabia o que arriscava.

Também teve importância o facto de Ian achar que não seria levado a sério caso se fosse queixar.

Finalmente, chegou o dia em que um vizinho (Ian garante ainda hoje desconhecer quem foi) o viu em tal estado que informou a polícia. Quando esta chegou, Michelle perguntou ao marido o que fizera dessa vez, como se ele jamais tivesse tido problemas criminais. Mas a polícia, que não era cega, separou logo os dois.

Dizer finalmente

Ian foi levado para uma carrinha lá fora. O funcionário experiente que falou com ele perguntou-lhe se as agressões cujos efeitos eram tão visíveis haviam sido causadas pela outra pessoa na casa. Ele começou por negar. O agente insistiu, fez-lhe notar que ali, entre aquelas paredes, ninguém lhe faria mal. Ainda hoje ele chora nas entrevistas quando recorda o momento em que finalmente respondeu 'sim' à pergunta.

Um mês de exames físicos e psiquiátricos - a ele e a Michelle - produziram diagnósticos que não deixaram quaisquer dúvidas ao juiz. Hoje em dia Ian, claramente gasto e envelhecido pela experiência, fala em público como forma de inspirar outras pessoas a ganharem coragem para denunciar situações idênticas.

Segundo as estimativas de uma organização britânica especializada em violência doméstica, até cerca de 40% poderão ser homens.

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