Friday, March 6, 2009

"É a minha mulher, saia daqui senão mato-a a seguir"

Vítima, de 49 anos, saiu de casa e foi perseguida pelo homicida, que ameaçoude morte moradores que assistiram ao crime, em Cabeças (Alvaiázere)
00h32m
HELENA SILVA, COM N.M. E A.S.
Foram minutos de verdadeiro terror a que assistiram alguns moradores da localidade de Cabeças. Uma mulher foi esfaqueada até à morte, no interior do seu carro. O suspeito é o ex-marido da vítima.
Maria Manuela Reis Antunes Margarido, de 49 anos, saíra de casa, no lugar de Casais de Arega, Figueiró dos Vinhos, pouco antes das 9 horas. Entrou no carro e dirigia-se para o emprego, numa churrasqueira daquela vila, quando detectou um automóvel a segui-la. Terá sido isso que a levou a alterar a rota e, em vez de seguir pela Estrada Nacional 350 - que a levaria ao centro da vila - tomou o desvio para o lugar de Cabeças. Na pequena localidade, tomou uma rua estreita e ainda entrou com o carro (um Opel Corsa de cor branca) no alpendre de uma casa.
Delfina Lopes, de 61 anos, a proprietária da habitação, estava a ver televisão, no primeiro andar, e ouviu o barulho do carro a chegar. Desceu para tentar perceber o que se estava a passar e foi confrontada com uma imagem de horror.
"Ele [o agressor] estava de joelhos por cima dela, que estava deitada nos bancos da frente do carro. Tinha uma faca na mão e estava a esfaqueá-la", contou ao JN mulher, visivelmente chocada.
Foi nessa altura que a sexagenária se apercebeu de que Maria Manuela gritava desesperadamente. "Ela dizia: "acudam-me, acudam-me", relatou.
Sem pensar bem no que fazia, a mulher correu em seu auxílio. Pela porta da frente do veículo, que se encontrava aberta, segurou o braço do homem, enquanto gritava: "O que está a fazer? Deixe a mulher". Conta a moradora que o homem parou por momentos, voltou-se para ela e berrou: "Saia já daqui, senão vai a seguir. Esta é a minha mulher".
Delfina diz ter corrido, então, para casa de uma prima, de onde telefonou a alertar as autoridades. Quando regressou ao local, o homem estava a fugir de carro, em marcha-atrás. "Ainda espreitei para dentro do carro, mas ela já nem se mexia. Estava cheia de sangue. Estava morta", afirma, procurando segurar as lágrimas. "Se calhar, eu podia ter feito mais alguma coisa para a ajudar", lamentava.
Ontem, ao final do dia, a Polícia Judiciária de Coimbra ainda procurava o agressor, que se supõe tratar-se do ex-marido da vítima.
Maria Manuela saíra de casa do marido, na zona da Barquinha, há cerca de um ano. E regressara a casa dos pais, em Casais de Arega. Os moradores daquela localidade contam que, por várias vezes, a mulher se queixara da perseguição e das ameaças de que era alvo por parte do ex-marido.
"Ele dizia que a matava e costumava andar por aqui, muitas vezes, a espiá-la. Até de noite, ele ficava por aqui, dentro do carro", contou um dos habitantes.
Anteontem à noite, o carro do ex-marido foi visto por alguns moradores, próximo do adro da igreja de Arega. Por isso, acreditam que ele terá ali ficado toda a noite e tê-la-á seguido pela manhã. Contam ainda os moradores que a mulher terá apresentado queixa e que estaria agendada, para ontem, uma audiência em Tribunal relativa a essas queixas.
Crime deixa aldeira chocada
"Chamem a guarda"
Manuel Graça, de 70 anos, diz que ainda viu o agressor antes dele fugir. E assegura que as últimas palavras do alegado homicida, foram: "Chamem, agora, a Guarda".
Filho reconheceu corpo
Todos os documentos da vítima desapareceram do carro. A polícia acredita que tenham sido levados pelo agressor. O cadáver da mulher foi levado para morgue do Hospital de Avelar, onde foi reconhecido pelo filho, de 29 anos.
Desempregado
Os moradores de Arega contam que o ex-marido da vítima se encontrava desempregado, depois de alguns anos a trabalhar no estaleiro de uma empresa, na zona da Barquinha.